domingo, 21 de dezembro de 2014

TPC - Natal

Natal

Não tenhas medo
Que ainda é cedo
O grito que ouviste
Não é de Jesus
Que há-de morrer na cruz.
É de um menino qualquer
Que não queres conhecer.
Está prestes a morrer
Mas não é problema teu
Porque o menino Jesus
Ainda não nasceu.
O menino que grita
É que se enganou
Gritou antes do tempo
Não esperou pelo Natal
Que tem data certa
E que só desperta
Com o menino Jesus
O tal da cruz
Que vem cheio de uma luz
Que logo se apaga
Porque ao menino que grita
Ninguém afaga

De, Rui Chaves

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

TPC - Poema/Texto Narrativo

Vagueando sozinha pela multidão
que invadia as ruas,
resolvi entrar na catedral
onde tudo seria mais calmo.
Na realidade, como tudo era diferente...
respirava conosco a indiferença
do século passado.

Depois de algum tempo,
tateando por ali todo aquele silêncio,
reparei nos típicos cubículos católicos
onde alguém "escutava",
escutaria a voz de outro alguém
e à beira de um deles,
ajoelhava-se uma rapariga
que alheia a tudo o resto
segredava num murmúrio
suas orações.

Saí cá para fora,
o Sol desaparecera,
os pombos recolhiam aos ninhos.
Rios de gente via as montras,
e eu já cansada resolvi sentar-me
num banco de jardim
e adormeci...


De, Idalece

TPC - Poema/Texto Narrativo

Uma menina corre campos fora, braços estendidos para o sol e o vento,
seus companheiros de risos e brincadeiras.
Nos riachos e lagos tinha os melhores espelhos
e a vida que neles fervilhava exercia um fascínio sem fim
ao seu olhar atento e durante horas aí se extasiava.
As borboletas eram cuidadosamente apanhadas
com o objetivo de conseguir misturar as suas cores,
porém, tristemente descobria que despidas do pólen por terra
se ficavam e não mais voavam...

Os anos passaram, a menina cresceu e um dia no colégio,
onde uma bolsa de estudo lhe franqueou a entrada,
as suas colegas nascidas e criadas em berços de ouro,
contavam episódios das férias
passadas na praia à beira-mar. Mar, praias,
desconhecidas palavras que rapidamente
se transformaram em sonho e magia.
Ei-la então na biblioteca itinerante que uma vez por semana
parava ao largo do mercado da sua vila.
Durante horas o mundo confinou-se às páginas
que continham descrições mágicas que alimentavam
a sua fantasia e deleitava-se na areia molhada
que o sol beijava.

Os anos seguiram o seu curso e finalmente
o sonho fundiu-se na realidade e lesta
corria beira-mar, uma concha rolava...
um búzio ecoava o ruído das ondas,
essas mesmas que se enrolavam sobre si próprias
para depois estrondosamente fustigarem
a areia que as aguardava queda e mansa
e quão bonita ficava com os flocos
brancos de espuma...

A magia dessa energia que se respira e nos alimenta,
hoje bem mais acessível,
não se perdeu na vida adulta, muito pelo contrário,
transformou-se num templo, onde se reza
e a angustia acalma.

De, Maria Antónia Rosa

TPC - Poema sobre o tema "Felicidade"

À sombra
de uma oliveira
a nudez
tomou-os nos braços
e o amor
prosseguiu seus passos.
A moçoila
abriu-se ao mancebo
e ambos comeram
azeitonas pretas
recolhidas
nos brancos seios
e nos jovens
músculos
que juntos
revolveram
a terra
e nela
criaram sulcos
em que deixaram
seus mucos.
A nudez tomou-os
nos braços.
O amor prosseguiu
seus passos
e a terra recebeu
seus traços.

De, Rui Chaves

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

TPC - Poema inspirado no tema "Amor e Paixão", baseado na leitura de poemas do escritor João Bernardino

Quis recordar o teu rosto
A suavidade dos beijos,
A ternura que sentíamos,
as alegrias trocadas,
O amor presente!

Pergunto-me porque o faço
pois é tempo acabado
sem futuro, sem nada!
Estiveste tão perto,
Estiveste tão longe!
Procurei, sem te encontrar...

Caminhei suspensa
Revisitando o passado
Revisitando os porquês
e em cada etapa
vi a mulher renascida,
apaixonada, adormecida, iludida!

Sim, vi essa mulher
somente essa mulher...
E tu, onde ficaste?
Tu que foste o amor da minha vida?

Perdi-te! sim
Perdi-te, na subtileza do desgaste
no silêncio e na mansidão dos dias
na amargura da indiferença
no deixa andar consentido...

Sim, procurei sem te encontrar
Sim, talvez por tanto querer esquecer
Me libertei de ti...

De, Constança Brito

TPC - Poema inspirado no tema "Amor e Paixão", baseado na leitura de poemas do escritor João Bernardino

Paixão

O amor idealizado
É uma chama viva
Alegria sofrer resignado
Ave que não se quer cativa

O amor sublime
É ideação vivida
Vime que não se dobra
Escravidão consentida

Amor triste virtuoso
É doença de poeta
Tem artes e é manhoso
Não fere, nem chega à meta

De, Filomena Lopes

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TPC - Um poema para uma música

A música:
(Copiar link)

http://youtu.be/xwsYvBYZcx4

O poema:

És o meu divino vinho, o meu sagrado pão

É o meu princípio
E o meu fim
A minha inspiração
O meu preferido tema
O meu refrão
Em ti me consubstancio
Me faleço
Me reergo
A cada dia
Em ti amo
Todos os defeitos
Todas as virtudes
Amo-te mais
Que a própria vida
Porque és ela mesma
Inesgotável
A minha comida
O meu divino vinho
O meu sagrado pão
O teu corpo
Sobre uma toalha
De linho
Servido
Sorvido
Todos os dias
À minha mesa

De, Alberto Dias

TPC- Um poema para uma música

A música:
(Copiar o link)

http://youtu.be/bIvJB86Zj50


O poema:

Uma espécie de dor

Um mágico por-do-sol,
Varandas da minha infância,
Telhados de zinco
As danças do vento,
Capim rasteiro
Noites de trovoada,
Queimadas no horizonte,
Alegrias de menina
Anseios de adolescente,
Ilusões de mulher,
Olhos marejados de lágrimas...
Medo presente.
Tumulto interior,
uma ânsia agreste,
revolta tardia,
gritos de dor,
gritos de agonia,
Ódios ancestrais
Corpos mutilados,
Sonhos sem forma,
tristezas sem fim,
Olhos marejados de lágrimas,
Anos passados!
Cicatrizes presentes,
Esperanças futuras,
No muito, no nada!

De, Constança Brito




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

TPC "Miguel Torga"

Eu guardo dentro de mim a liberdade de pensamento.
Ela voa solta com o vento e toca quente
num portento de glória, onde a história tem lugar.
Enquanto tiver sopro, vou ficar...e ninguém vai afastar
este meu sonho de conquista, este sonho altruísta
amarrado aos nenúfares da fantasia,
escondido do peso da hipocrisia e das ideias tormentosas
que fazem da pessoa humana um barco à deriva em alto mar.
Eu quero escrever um poema de amor!

Paralisei quando te encontrei.
E não sei porquê, dei por mim a parar em qualquer lugar,
não sei porquê...a suspirar de encantamento e ao ver-te
não te via, porque falar-te não podia.
Eras a minha fantasia.
Livre não sou,
Tu és a vida que eu não agarrei. Tu és o amor que eu sonhei
e nunca vais saber quem sou.
Livre não sou.
Dediquei-te a mocidade do tempo que já passou.

De, Anna Netto

Miguel Torga

Miguel Torga nasceu em 1907 em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa Trás os Montes, aldeia onde cresceu e que o havia de marcar para toda a vida. De nome Adolfo Correia da Rocha, adoptou o pseudónimo de Miguel Torga (torga é o nome dado à urze campestre que sobrevive nas fragas das montanhas, com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas). 

Depois de uma breve estadia no Porto, frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio. Regressou depois a Portugal acompanhado do tio, que se prontificou a custear lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu, matriculando se a seguir na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933. Exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que alguns anos mais tarde acabou por se fixar."Atordoado na meninice e escravizado na adolescência, só agora podia renascer ao pé de cada rebento, correr a par de cada ribeiro, voar ao lado de cada ave", pouco sociável, mitigou a solidão rodeando se de livros. Foi logo após ter entrado para a universidade, que deu início à sua obra literária, com os livros"Ansiedade" e "Rampa".

Só em 1936 passou a usar o pseudónimo que o havia de imortalizar. Desde a década de trinta até 1944, escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro. Não oferecia livros a ninguém, não dava autógrafos ou dedicatórias, para que o leitor fosse livre ao julgar o texto. Foi várias vezes candidato a Prémio Nobel da Literatura. Ganhou vários prémios entre eles, o Grande Prémio Internacional de Poesia e em 1985 o Prémio Camões.

Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir preso à pátria e a Trás os Montes, longe do qual seria um "cadáver a respirar". A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Toda a sua obra, embora multifacetada, é a expressão de um indivíduo vibrante e enternecido pelas criaturas, tremendamente ligado à sua terra natal.

Faleceu em 1995. Em 1996 foi fundado o Círculo Cultural Miguel Torga.


Fonte: http://www.truca.pt/ouro/biografias1/miguel_torga.html

terça-feira, 30 de setembro de 2014

TPC "Paulo Leminski"

Contra dúbias fés e crenças
Vivam descrentes ateus
Mas à nossa volta, imensas
Razões gritam intensas
Eis a voz, eis o Deus.

Há luz na casa jorrando
Que não cabe na sala.
Há vozes dentro soando
Que fora dizem, falando
Eis o Deus, eis a fala.

Pode não sair da sala
O Deus d'alguns de nós.
Mas que saia dela a fala
E a voz que não se cala
Mais a luz que há na voz

De, Arnaldo Ruaz

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Paulo Leminsky


Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 1944. Poeta de vanguarda, letrista de música popular, escritor, tradutor, professor e, pode parecer inusitado, mas ele também era faixa-preta de judô.
Mestiço de pai polaco com mãe negra, sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito: é dono de uma extensa e relevante obra.
Sua estreia como escritor foi na Revista Invenção, do grupo concretista de São Paulo em 1964, aos 18 anos de idade. Mas durante as décadas de 60, 70 e 80, ele reuniu em sua volta várias gerações de poetas, escritores e artistas. Sua casa, no bairro do Pilarzinho, virou um local de reuniões informais e até de "peregrinações". Muita gente queria ver Leminski, desde desconhecidos a famosos como Caetano Veloso.
Leminski tinha uma grande preocupação com o conteúdo de sua obra. Por uma questão de temperamento e de busca, Leminski se aventurou na poesia de vanguarda, e alguns tipos de poesia que não têm uma raiz brasileira, como os hai-kais. 
Leminski era um boêmio inveterado. Em 1989, por causa de problemas com o álcool, ele acabou falecendo. Mas sua obra continua viva e pulsante. 

Fonte: Internet - http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=152

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Concurso

XVIII Concurso de Poesia da APPACDM de Setubal 

A APPACDM de Setúbal encontra-se a promover a XVIII Edição do Concurso do seu Concurso de Poesia, subordinado ao tema “A Poesia que há em ti”, com o objectivo de estimular a actividade criadora e sensibilizar a comunidade para a problemática da deficiência mental.

A este concurso podem candidatar-se todos os cidadãos Nacionais residentes no Continente e Arquipélagos da Madeira e Açores, com idade igual ou superior a 18 anos.

A entrega dos trabalhos está a decorrer até o dia 7 de Novembro (data do correio), estes devem estar dactilografados em folhas A4 ou impressos em computador e que nunca tenham sido apresentados em anteriores concursos desta associação.

Os trabalhos devem ser enviados em três exemplares, assinados com pseudónimo para:
-Concurso de Poesia, APPACDM - Associação Portuguesa de Pais e Amigos do cidadão deficiente mental
Avª S. Francisco de Xavier lote 8  cave 2900-616 Setúbal.

Os trabalhos devem ser enviados em sobrescrito fechado, devendo no exterior constar o pseudónimo utilizado pelo concorrente. deve também ser remetido um outro sobrescrito fechado contendo no interior os elementos de identificação e os contactos desse mesmo concorrente e no exterior o seu pseudónimo

Cada concorrente só poderá participar com o máximo de três poemas

(Ver o artigo completo sobre este concurso, no jornal "Diário de Setúbal" de 08 de Setembro de 2014 - Fonte)


terça-feira, 9 de setembro de 2014

TPC "Kyrie"

Eis a voz dos que não são ouvidos
que chamam,
que murmuram,
que calam...

Eis o Deus
presente, ausente,
indiferente...

Eis a fala dos que ainda
ousam...
Para que a luz
se acenda na casas
e transborde...

No campos
Nos montes
Nos desertos
No coração dos homens
e permaneça...
Repleta de vida

De sonhos,
De esperanças,

Neste redondo mundo
onde o fim, é também
o seu início.


De, Constança Brito

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O condicionado

Início do ano lectivo

Bom dia a todos :)

Na próxima segunda feira iniciamos mais um ano de Poesia, na NOSSA Oficina.

Lá estarei ás 14:00 para vos receber para um momento de partilha poética, não se esqueçam do TPC ;)

Beijinhos grandes e até lá

Linda

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Trabalho final do ano letivo 2013/2014

Solicitei á turma que escolhessem uma fotografia e que escrevessem sobre a mesma.

Depois de os declamarem em sala de aula, eu, aproveitando pequenas frases ou trechos dos mesmos contruí um poema que apresentei no último dia da nossa Oficina de Poesia, retratando tudo o que vivi e senti neste meu primeiro ano de partilha convosco. Sei que gostaram tanto como eu e deixo-o aqui, sendo um trabalho partilhado entre todos e representativo do ano 2013/2014.

Um bem hajam!
______________________

Rolam gordinhas
Estas lágrimas minhas
Pelo término deste ano…
Levo mais
Do que vos trago,

Não há nenhuma preferida
No meu próprio crescimento
De Ser em mutação.
Pela vida que percorro,
Piso as pedras de qualquer rua
A partir de um retrato próprio
Não apenas a minha,
Mas também a tua…

Daqui levarei o deslumbramento
E o olhar dos que buscam.
É sonhar-se uma rosa
E nascer um jardim…
Há várias personagens
E boas recordações!
Várias mutações…

Hoje respiro a aragem refrescante
Que inunda este meu Ser
Mergulho no seu encanto
Desta Poesia a crescer…
Faz brotar do interior
Mil sentimentos de emoção.
Livros, artigos, frases,
Mensagens, Internet
E até ler algumas palavras de jornal…
Tudo vale para o despertar
Como hora maior, jamais esquecida
A nossa bela e doce Poesia!

Semana após semana
Lemos, escrevemos,
Uns TPC’s à mistura!
E transformais sem querer
Meu dia a dia,
Em tapetes de rosas perfumadas.

Uma foto, um poema
Gravada em feliz momento.
Arquitetamos mil projetos
Que iluminam a serenidade,
Num poema… sem idade.

Neste dia à face da terra
Vislumbro o meu caminho…
Que o antes se tornou
Uma sombra do passado
Perdera a graça!!

Hoje, reluzente o futuro
Novos horizontes partilhados
Sorrisos rasgados
De um rumo realizado a percorrer…

Um mundo novo vim conhecer
E quanta beleza descobri!
Do vosso saber eu bebi!
Sonhos, sentimentos, desejos, emoções
E que terão muitas mais recordações

É como uma tela de arte
Neste parque sem idade
Que hoje nos dá a cortesia
Que abraça esta universidade
Mas onde cresce a cada dia

A nossa amada Oficina de Poesia!



Por, Oficina da Poesia da Uniseti de Setubal



Fotopoema

Jardim do Bonfim

Trilhando os teus caminhos
veredas e pedrinhas
viajei da infância
à juventude
da ignorância à cultura
da província à cidade.
Ao som dos pássaros
na quietude das aguas
um mundo novo fui conhecendo
por entre canteiros floridos
quanta beleza descobri,
até mesmo para trabalhar
à tua beira fui parar
e durante dezenas de anos
te admirar
Mais tarde por entre flores
nasceu um amor para a vida
e como eram deliciosos
os bancos para namorar...
Tal qual o teu verde
desabrocha exuberante
também os meus filhos
cresceram em teu seio
brincando
uma bola, um cão, um pombo
entre sorrisos e lágrimas
unimos gerações
tal qual as tuas árvores
se entrelaçam e unem os ramos
hoje
as sombras são mais quietas
e o sol por entre elas declina
suavemente um calor terno
ameno
os ramos tremem os troncos caem
ou serei eu
de cabelos brancos
que te vejo com um novo olhar?

Por, Antónia Rosa

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Poema "Criança"

Ao princípio eras tu.
A alegria, a liberdade,
a sabedoria de nada saberes
e a leveza de ainda não teres
de carregar com o mundo.
E assim foste sendo,
em larga correria de vento
de ti para ti,
e era tanto esse teu mundo.
Porém, o tempo é uma veloz estrada
que se encurva
e, estendendo-se, a seu jeito, nos
arremete para desconhecidos
que nos irão fazer.
É, então, aí, que tudo começa a desdobrar-se,
e que tu, ou já outro que tu ainda,
te sentiste sacudido pelos deslumbramentos
de descobrires que as raparigas floriam
e que já era maio no teu corpo.
E é nesse exacto ponto,
como quem espeta uma lâmina
na carne espantada,
que ficaste para trás,
enquanto a esse outro, que tu ainda,
o vias desaparecer por uma dessas curvas
que no tempo há.
Porém, embora isso, continuaste a aparecer.
Foste aparecendo sempre.
Não sei como entras
nem como sais. Sei que dou por ti
em devaneios cá dentro.
Mas é em sonhos que resplandeces
em total nitidez. Sendo num desses sonhos
que me levantei e, decidido,
fui nos teus passos. E tal chegou a ser a proximidade
que estendi a ousada mão
para te acariciar, mas tu, esquivo e leve
como um animal solto, fugias sempre.
E curiosamente, quanto mais fugias
mais piqueno eras: tu recuavas no tempo,
eu não.
Depois, desapareceste por entre os escombros
de recuadas e indecifráveis memórias,
e eu sempre no teu encalço.

É então, que o espanto dos espantos:
e tu de novo, mas agora tão criança ainda
sentada ao colo de uma mulher
de onde me olhavas protegido e curioso.
Enquanto ela, coisa tão estranha, bem mais nova
que eu agora,
olhava-me com uma tão profunda serenidade
que, me atravessando, parecia estender-se
para dimensões que não sei dizer.
E eu, esse desajeitado de sempre,
que nem uma flor sequer para lhe estender.
Caí aos pés daquele sagrado, a cara no chão
e mais não sei...

Sei que desde então desapareci.
Que nunca mais soube de mim
e que desde então, também,
tudo o que faço e digo e sou
mais não é,
que andar em minha procura.


Por, João Santiago

terça-feira, 27 de maio de 2014

Trabalho "Êxtase"

Olá meus amigos,

Este trabalho foi-me particularmente de dificil escolha, pois parece-me que todos os meus alunos ficaram inspirados pelo poema da minha amiga Rosa Familiar "Êxtase", pertencente à antologia "Simbiose" e que gentilmente me autorizou a que o mesmo fosse "trabalhado" na nossa Oficina da Poesia.

O trabalho consistia, em que considerassem o referido poema como estando em "aberto" e que o terminassem, no entanto, que o iniciassem com o original.

Entre os que fizeram o trabalho de acordo com o solicitado, escolhi 3 que pessoalmente gostei muito :))

No entanto, quero deixar aqui os meus maiores parabéns a toda a turma, pelos trabalhos que apresentaram.

Um bem hajam!


No céu perpétuo e imaculado
Revejo o sol fugido do meu imaginário,
Solta-se o frio trémulo nos raios extasiados
E o brilho cintilante surge iluminando o meu barco.
Não posso navegar, amarrei-me ao destino,
Na terra molhada com lágrimas de solidão,
Olho o infinito, e permaneço aqui, parada,
Sufocada, mas com a esperança de voltar a navegar.

E o arrepio que me acompanha tantas vezes
abana a consciência do Céu,
aquece o sol do paraíso e num compromisso
desnuda a solidão, apontando o caminho
num brilho transparente e constante,
a remar contra o destino
e o desperdício da inteligência.
Desatando as amarras com a força
da sensibilidade e o estremecimento da atitude,
deixando para trás o náufrago afogado
na impassibilidade da apatia
muda do medo de mudança.

Voltar a navegar...Trás confiança!

Por Anna Netto


_______________________________________________________


No céu perpétuo e imaculado
Revejo o sol fugido do meu imaginário,
Solta-se o frio trémulo nos raios extasiados
E o brilho cintilante surge iluminando o meu barco.
Não posso navegar, amarrei-me ao destino,
Na terra molhada com lágrimas de solidão,
Olho o infinito, e permaneço aqui, parada,
Sufocada, mas com a esperança de voltar a navegar.

Oh mar soberbo e altaneiro
Como te admiro e anseio
Navegar sob as estrelas e o luar
Ou com o sol dourando o meu lindo barco
E meu Deus, deslumbra-me o poente
Tremendamente belo, os tons rosados
No horizonte tem tanta beleza
Que me eleva, sonho-me a bordo
Do meu barco que desliza sobre
Um trilho de prata de luar
E extasiada leva-me assim,
Num cruzeiro de feitiço sem ter fim.

Por Dª Milú


________________________________________________________

No céu perpétuo e imaculado
Revejo o sol fugido do meu imaginário,
Solta-se o frio trémulo nos raios extasiados
E o brilho cintilante surge iluminando o meu barco.
Não posso navegar, amarrei-me ao destino,
Na terra molhada com lágrimas de solidão,
Olho o infinito, e permaneço aqui, parada,
Sufocada, mas com a esperança de voltar a navegar.

Nas águas mansas que me embalaram.
Solto as amarras que me prendem os sentidos,
E aproo o meu barco, rumo a um futuro luminoso,
Onde as minhas lágrimas, sejam fertilizante que
Alimente os campos floridos, e as margaridas se
sobreponham aos cardos.
Sinto que o sol voltará a aquecer o meu coração, a
inundar de luz o meu rosto,e uma brisa fresca me
levará ao porto seguro, onde a tristeza e a solidão,
foram banidas para todo o sempre.

Não me desprenderei do meu destino, e com ele, irei
de braço dado, percorrendo uma floresta luxuriante,
E de perfume exótico, em que só o trinado das aves,
sejam a melodia que me exulta, e os raios de sol cintilantes
que se filtram, por entre os ramos das poderosas Sequóias,
me deixem em êxtase.
Inebriada neste sonho de felicidade, desço as velas do meu
barco, e aporto para todo o sempre, neste cais imaginário.

Por António Alberto

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Poema - "A amizade"

Como te sentes tu, entre os humanos
Se humano sendo, te ignoram.
A chuva que ensopa os teus vestidos
Também a vós, vos molha…
O sol que te aquece a alma
E te dá vida
Aquece o coração de toda a gente.
A lua resplandece para todos.
As estrelas brilham no céu, sem nuvens
Isto, é um hino ao amor, à amizade!
Porque não nos damos as mãos, sendo diferente,
Porque estiolamos nós, com nossos pensamentos,
Porque não nos entregamos mais aos outros
Para que prevaleça a amizade
Que supera o amor individual
E faz realçar a lealdade…
Bela, sublime, vigorante, razão para se viver.

As diferenças podem ser ultrapassadas, se para tal
Houver muita vontade, pois só assim
Se atinge a felicidade.

Por ser tão raro encontrar
Um amigo de verdade
Não se deve desprezar
A verdadeira amizade.
Que nasce de causas puras
Que acalenta a lealdade
Não relevando sacrifício,
Se houver razão p’ra tal.

Que nos faz dar um abraço
Resolver na hora errada,
Nos mantém firmes, de pé
Ajudando p’la calada
Dando com a mão direita
Sem que a esquerda o pressinta

É um hino à amizade
Sem que a minha alma minta!


De, Célia Abreu e Delmira Viegas

terça-feira, 15 de abril de 2014

Feliz Páscoa

Quero deixar aqui, os meus votos de Feliz Páscoa para todos. Que esta seja uma época de muita paz, renovação e amizade!

Beijinhos grandes :)

Linda Neto


Feliz Páscoa! - Recados e Imagens para orkut, facebook, tumblr e hi5


sexta-feira, 28 de março de 2014

Trabalho final do 2º período

Olá a todos,

Aproveitando os vossos belos textos/poemas/mensagens em simbiose com as fotos que lhes calharam em sorte na aula, elaborei este "pequeno" filme, declamado por mim mesma (algo novo, peço que me desculpem por algo que esteja menos bem, inclusivé o volume do final, mas este tipo de trabalho foi novo para mim e só com a prática é que melhorará :)

Espero que lhes dê tanto prazer ao ouvir, como eu tive a declamar...

Beijinhos

Linda Neto
(Fotos retiradas da Internet)

quarta-feira, 26 de março de 2014

Poema - "As cordas de tocar o poema"

Através do poema
me confesso. Me mostro a mim
e a quem de mim
queira saber. Risco e traço
e discorro e formulo. E eis-me assim
em fabrico do necessário fio
do embrincar da peça. E porque assim o quero,
ali eu exposto
sem timidez que me embarace.
Nada escondo nem peço nem imponho.
O que me move são ideais de partilha
que especulando pratico.
Não trago cortinas corridas
nem fórmulas guardadas
nem partos milagrosos.
Mas também génio algum
vem pousar a rara mão
sobre a testa indefinida do nascente.
Tudo são interacções
entre o que faço e o que desejo fazer
mais a crença forte
de que tudo o que se forma
para nascer
encontra, no meio, as linhas
da sobrevivência que lhe propicia o rumo

É assim que aqui estou
partilhando o modo como, em mim,
se inicia o poema:
chegado o primeiro sinal, pego-o,
pousu-o no chão e,
com os olhos nele, caminho
em redor em procura dos materiais
de o fazer crescer,
de o vestir, de lhe dar um jeito nos contornos
e de organizar-lhe o fundo
onde deposito um lastro que o equilibre
quando, for por si,
e se a mares maiores
se quiser fazer.


João Santiago

terça-feira, 18 de março de 2014

Poema "Onde ficou a Lenda Pessoal"

Uma criança fascinada
com o mundo do espetáculo,
a todos espantou
quando alguém lhe perguntou:
-Que queres tu ser quando fores grande?
-Artista de Circo!
Perante tal determinação
e tão forte convicção
o adulto assustou-se e aconselhou:
-Não voltes a repetir tal disparate!
A criança admirou-se!
Não entendeu mas interiorizou
e quando surgiu a ocasião afirmou:
-Quero ser "mamã"!
-É isso que quero ser.

Adolescência adiante a florescer
foi realizando o sonho primitivo
Com disfarçada alegria
em segredo e em magia.
Num mundo seu privativo
imaginava o espetáculo
com teatros e cantores
e com eles convivia nessa fantasia.

Cresceu!
Foi mãe extremosa
e professora carinhosa,
concretizando sonhos
em harmonia afinados.
E aos filhos bem amados
sem descurar e com primor,
neles pôs confiança
com segurança e rigor.
No atribulado palco da vida
entregou-se à sua missão
toda alma e coração,
plena de entusiasmo e vigor!
Porque a alegria e felicidade que vêm
de dentro
resistem a qualque sofrimento!
É algo maior,
um bem supremo
que nada nem ninguém pode anular!

Afinal sempre se diz
que a verdadeira vocação
do ser humano
é ser feliz!
Pois então vejam só,
ainda a modestos palcos subiu
integrando um grupo musical
já era avó!
E assim num convívio desejado
cantou, dançou
e viveu na exuberância do seu sonho,
já na maturidade da vida
e da alma sofrida!
O que conta é o espírito
porque é perpétuo!
E a idade, essa
é fogo-fátuo!

E para terminar
hoje gosta de afirmar
sem vacilar e de pé:
-sou uma mulher de fé!


Maria de Lurdes Louro

Enquadrado nas comemorações dos 40 anos dos 25 de abril...

Partilho convosco...

http://youtu.be/6favt-Sh-_E

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Trailler - Borboletas Negras

Olá,

Lembram-se do filme que falei que relata a vida da Poetisa Sul Africana Ingrid Jonker?
Deixo aqui o trailler. Era bom que se conseguisse ver o filme não era?

http://www.youtube.com/watch?v=s6AF30r3H-o

Vamos a ver se consigo :)


Beijinhos

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A nossa querida Milú


No passado dia 15 de fevereiro, no Clube Setubalense foi feita uma justa homenagem à nossa querida Dª Milú. A sala estava cheia e foi uma tarde de muita amizade e de muito amor à poesia!!!



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Trabalho final do 1º período na Oficina da Poesia - Poema elaborado com frases individuais dos alunos sobre o que é a Poesia para os mesmos...

POESIA É…

Poesia é a cascata de luz e cor
Onde os meus sonhos e dores
Se banham…

É sentir espiritualidade,
É saborear os bombons que a vida tem
E que nos afecta deliciosamente,
É vencer com poesia e amor…
O maior bem.
É no fundo, a expressão que o sentimento
Acalma
E que ninguém a mal me leva
Mesmo que use um sentimento
Imundo!

É algo que transcende,
Beleza!
Emoção!
Até ao mais profundo do meu ser…

Libertação!
Comunhão!
Com todo o universo…

Poesia é uma flor…
Que vai sendo desfolhada
Consoante a luz de cada dia.
É dar e receber
Quando parto em procura de mim…

É todo o amor que dou e recebo dos meus netos,
dos seus grandes abraços
ternurentos…
E dos beijos molhados
Do mais pequenino,
com dois anos…

São sentimentos guardados,
Lá no fundo de nós mesmos…

Poesia, é um sonho feito espera!
Que enche a nossa alma…

É tudo azul!

É a arte de fazer versos,
É a maneira de descrever
O que é belo
de uma forma poética…

Poesia…
Esta liberta a alma do Poeta,
Dá forma á palavra e ao amor!
Nunca atingindo a meta…
Acredita no Eu criador.

Usa a mente com magia…
É a exteriorização de emoções e sentimentos!
Passados em verso para o papel.

È um sentimento utópico
Que fica para depois
Dos sentidos…

Poesia faz-me crescer!

Faz-me sorrir…
É magia!

E faz-me viver!


Oficina da Poesia
(Uniseti de Setúbal)

Epopeia

Falámos sobre o género "Epopeia" e a título de desafio, foi solicitado aos alunos que tentassem fazer uma Epopeia com o máximo de ...